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A oitava newsletter do RelevO: gritos, flores, Cortázar e proibição de morte
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edição #9 – 27 de abril de 2015
editor Mateus Ribeirete editor-assistente Lucas Leite
projeto gráfico Marceli Mengarda revisão Daniel Zanella
[por Daniel Zanella]

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#1 Millefleurs, literalmente mil flores (não confundir com o folhado francês millefeuilles), é um estilo de tapeçaria europeia comum na Idade Média e início da Renascença caracterizado por um fundo repleto de flores e plantas diversas sobre as quais repousam os personagens e objetos da cena principal. O objetivo é criar um jardim altamente decorativo que cubra toda a peça homogeneamente, deixando a precisão e verossimilhança em segundo plano.



Sua origem, porém, é incerta. Uma das teorias diz que a técnica seria uma evolução do costume medieval de costurar flores em tapeçarias em ocasiões de festivais que celebravam a primavera. De qualquer maneira, é clara a influência da arte islâmica e seus arabescos, com a diferença sendo a variação de tamanhos e formas das plantas, além da ausência de padrões na sua distribuição no caso do Millefleurs. Outro tipo de decoração semelhante são os motivos florais presentes nas Iluminuras. Nesse caso, as flores se conectam e se sobrepõem, algo que não acontece nas tapeçarias.

#2 Você já ouviu falar no grito Wilhelm? Porque ouvi-lo você certamente já ouviu. Trata-se de um som de estoque utilizado em mais de trezentos filmes. (Em seu artigo da Wikipedia, é possível escutá-lo em separado, no player à direita da página). De Star Wars a Titanic, passando por Cães de Aluguel e até a comédia Harold & Kumar Go To White Castle, o Wilhelm scream se fez presente em diversas situações, a maioria delas encoberta por outros sons de porradaria, como tiros, explosões e quedas abissais.

O primeiro grito surgiu no filme
Distant Drums, de 1951, uma película de faroeste, em cena na qual um soldado é mordido por um jacaré enquanto percorre um terreno pantanoso. Nos anos 70, um grupo de sonoplastas da Universidade do Sul da Califórnia percebeu que o berro havia se tornado frequente, reconhecendo-o de outro western, The Charge at Feather River, de 1953. No filme, quem solta o hoje consagrado "AHHHH!!!" é um personagem chamado Wilhelm – daí sua nomeação.
 

Ben Burtt, que fazia parte do grupo em questão, viria a aplicar o grito Wilhelm na saga Star Wars (e em vários outros filmes). Descobrir quem imortalizou a voz na gravação – realizada em estúdio, após a cena do jacaré , entretanto, tornou-se uma missão complicada. Hoje, atribui-se o feito ao ator e músico Sheb Wooley. Nessa compilação é possível verificar várias das utilizações.

[obrigado, Vitor de Lerbo!]


#3 A pequena colônia de Longyearbyen, localizada em Svalbard, um arquipélago pertencente à Noruega, é muito, muito fria. Longyearbyen, pois, fica lá em cima no Círculo Polar Ártico, como você diria à sua professora de geografia até ela retificar que "lá em cima só o céu". Em todo caso, o lugar é frio o suficiente para, além de contar com a presença de ursos polares (!), ter gerado uma das leis mais peculiares de sempre: a proibição de morte. Isso porque uma onda de gripe resultou em número elevado de óbitos, no longínquo ano de 1917. Enterrados, os corpos contaram com a peculiaridade do contexto gélido e, treze anos depois, descobriu-se que os cadáveres não sofreram decomposição.

O que poderia produzir uma versão de Walking Dead com
Hyoga, o Cavaleiro de Cisne, no entanto, tornou-se apenas responsável pela manutenção do vírus da gripe. Diante do cagaço que uma nova onda de gripe poderia causar em um local tão isolado, a solução imediata foi simplesmente proibir mortes. Em 1930, portanto, o cemitério passou a rejeitar novos moradores. O que acontece, então, é o seguinte: se você por acaso estiver muito próximo de bater as botas em Longyearbyen, transporte aéreo te levará para ser tratado em alguma região da Noruega. E se acontecer de você morrer repentinamente lá, seu corpo será enterrado em outro lugar.

#4 Ainda sobre os sons do inconsciente coletivo: você já ouviu essa batida? Sim. Com certeza. Nesse espaço de 6 segundos está contido o trecho mais sampleado da história da música. A canção em questão é Amen Brother, lado B do single Color Him Father (1969), do grupo de funk The Winstons. 

Embora tenha sido lançado no final dos anos 60, o Amen Break (nome oficial do sample) só ganhou notoriedade em meados de 1986, quando foi incluído na série Ultimate Breaks and Beats, uma compilação de batidas para uso de DJs e grupos de hip hop em geral na produção de suas músicas.

Seu primeiro uso célebre foi pelo NWA em 
Straight Outta Compton (1988), onde aparece ligeiramente mais lento. Mas isso foi só uma amostra do que poderia ser feito com o Amen Break. Muitas das suas 1601 utilizações (segundo o WhoSampled.com) deixam a batida praticamente irreconhecível, como é o caso de Girl, Boy Song, por Aphex Twin. Desde então, o loop já figurou em músicas de Primal ScreamSlipknotSkrillex e na música-tema de Futurama e das Meninas Superpoderosas, além de propagandas de jipes e da indústria farmacêutica, para citar alguns exemplos. A banda nunca recebeu (nem tentou receber) royalties pelo uso do seu material – o que ajuda a explicar a popularidade e abrangência do sample.
 

1. Octaedro
2. Último Round
3. Casa Tomada
4. O Exame Final
5. Divertimento
6. As Armas Secretas
7. Bestiário
8. La Otra Orilla


 


"Eu gosto de ficar em hotéis. Gosto daqueles sabonetes pequenos. Gosto de fingir que são sabonetes de tamanho normal, e que meus músculos são enormes."

Jerry Seinfeld (Fonte)

 
No hipertexto sobre o Buzludzha, escrevemos que seria possível, do topo do monumento, ver 3/4 da Bulgária. Na verdade, é 1/3. Pelo menos não confundimos Bulgária com Hungria — ou Gal Costa com Maria Bethânia.
 
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