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Se for um retrato cuja única iluminação parece vir de uma lâmpada fraca, é Rembrandt
Se tiver um monte de anjos, nuvens e pássaros que se parecem, é Boucher
Mulheres idealizadas e cuidadosamente desenhadas, com os pés assim...
 
...é Botticelli
Se todo mundo for bundudo, é Rubens
Personagens mitológicos vestidos em cores vibrantes, dançando e parecendo estátuas ao mesmo tempo: Poussin
Cores foscas e contrastantes, corpos alongados, com um céu turbulento atrás, é El Greco (não confundir com Lagreca)
Cores foscas, atmosfera sombria e perspectiva "torta": Tintoretto
Vista de Veneza com pessoinhas que, olhando de perto, não têm rosto, é Canaletto
Se homens e mulheres forem igualmente bombados: Michelangelo
Imagem de história em quadrinhos ampliada até mostrar os pontinhos da impressão das cores, é Roy Lichtenstein
Se for uma cena cotidiana, no canto de um quarto, com a luz entrando pela esquerda, é Vermeer
Se for uma cena moderna noturna com personagens solitários que não se comunicam, é Edward Hopper
Se tiver bailarinas, é Degas
Se for uma cena altamente dramática, teatral, com fundo escuro e personagens em primeiro plano bem iluminados, é, claro, Caravaggio
Se for uma cena mitológica, realismo quase fotográfico, mulheres nuas e alvas, (quanto mais, mais provável de ser) Bouguereau
Quadrados coloridos, é Rothko
Se for uma versão melhorada das pinturas de sua tia, é Renoir
Se personagens bíblicos tiverem estes olhos puxados, é Giotto
Se forem cenas bíblicas com personagens rígidos, austeros, quase cinza de tão pálidos, é Piero Della Francesca
Se as pessoas na cena parecerem emitir luz própria, é Manet

(obs: vê aqueles desenhos na parede? São um quadro do próprio Manet, uma gravura de uma tela de Velázquez e uma estampa japonesa, à moda na época)
Se corpos nus flutuarem em fundo bege, Egon Schiele
Se abusar de retângulos, é Malevich
Se o cenário for bucólico e indígena, com cores vibrantes, é Gauguin
Se acabou de explodir, é Pollock
Se houver pessoas atormentadas com rostos severamente desfigurados, em grupos de três, é Francis Bacon
Se a pintura for claramente bidimensional, com figuras em traços finos sobre um fundo sólido: Paul Klee
Se forem retratos cujos rostos parecem máscaras africanas, geralmente sem pupilas nos olhos, é Modigliani
Se você estiver invadindo a privacidade, é Lucien Freud
Se as pessoas estiverem achatadas ao longo de uma igreja enorme, é Saenredam
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"Por motivos espirituais (os imperativos da evangelização), linguísticos (os obstáculos multiplicados das línguas indígenas), técnicos (a difusão da imprensa e a expansão da gravura), a imagem exerceu no século XVI um papel notável na descoberta, na conquista e na colonização do Novo Mundo. Por ser a imagem, junto com o texto, um dos instrumentos maiores da cultura europeia, a gigantesca empreitada da ocidentalização que se abateu sobre o continente americano assumiu – ao menos em parte – a forma de uma guerra de imagens que se perpetuou séculos a fio e que nada indica que já esteja encerrada.
(...) Se a América colonial tornou-se um cadinho da modernidade, foi por ter sido também um fabuloso laboratório de imagens. Aí se descobre como as "Índias ocidentais" entraram na mira do Ocidente antes de enfrentar, por levas sucessivas e ininterruptas, as imagens, os sistemas de imagens e os imaginários dos conquistadores: da imagem medieval à imagem renascente, do maneirismo ao barroco, da imagem didática à imagem milagrosa, do classicismo ao muralismo e até às imagens eletrônicas de hoje, que garantem ao México, numa espantosa reviravolta, uma posição excepcional entre os impérios televisivos planetários."
Serge Gruzinski, A Guerra das Imagens: de Cristóvão Colombo a Blade Runner (1492-2019), 1990 (Companhia das Letras, 2006).
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